quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

um momento... de ti. (6)


Está frio…
E começou a chover!
Estou na rua. Sozinho, sem qualquer protecção perante as agruras da noite!
Na minha mão direita, suporto a minha máquina fotográfica, a minha mão esquerda está cheia de nada…
Sinto a água escorrer pelo rosto, apenas tenho dificuldade em perceber se, a que agora escorre é minha ou da nuvem. Percebo pelo sabor e pela temperatura que a origem é do meu peito, bem lá do fundo!
Procuro um momento, uma imagem para recordar, para registar, para utilizar em sintonia com aquilo que sinto… curioso, é que o mais difícil seria voltar a objectiva para mim e disparar, seria cruel de mais admitir que ali o frágil seria eu!
Está escuro, as alaranjadas luzes que me alumiam, não aquecem aquele cenário, apenas lhe entregam ainda mais angustia. Um dia disse a alguém que aquela cor nas lâmpadas seria para de alguma forma aquecer o ambiente nocturno, nunca imaginei estar tão longe da realidade, quando se tem frio… é sentido na alma e não na pele!
Não vejo ninguém!
Nem um carro…
E é então que passa um eléctrico, vazio… apenas com um fantasma que o acelera pelos carris, pergunto a mim mesmo quem será o mais solitário naquela noite, se eu, ou se ele que tem o caminho perfeitamente delimitado e jamais desejaria sair desse mesmo carril!
Tento não pensar…
Não consigo deixar de sentir!
É mais fácil construir algo, dedicar-me à missão de captar um momento, preencher a minha mente com algo exterior, do que resolver o meu momento… mexer em mim, dói! Suportar este cenário é tolerável.
Dêem me um motivo, e eu vou! Não quero saber para onde, apenas quero fugir do meu mundo e da minha realidade. Curioso, sozinho, na rua perante cada gota da fria água que me assalta, sinto me embargado de toda a dor que quero exteriorizar…
O que me apetece?
Dar um berro vindo bem lá do fundo e libertar me de tudo isto, mas não quero chamar a atenção! Não quero que outras luzes se acendam…
É então que, surgido do nada, se aproxima de mim um ser puro e tão ou mais solitário do que eu, encharcado, com o pêlo escorrido pela água, percebo-lhe todas as protuberâncias que lhe definem o lombo. No meio daquela cena, ainda consegue abanar o rabo… como se me quisesse dizer, “olá companheiro! A tua dona também te abandonou…?”.
Cheira-me…
Faço-lhe uma festa no focinho.
E da mesma forma que apareceu, decide ir… percebe que hoje, eu estou pior que ele! Percebe que todo o tempo que ele passar ali comigo, será tempo que não irá farejar em busca de algo que lhe afague o estômago, afinal até nisso ele está a perde…
De forma surda, despeço me dele, mas sinceramente gostava que ficasse, que ficasse para fazer de mim alguém importante, nem que fosse para outro ser.
É então que decido dar a meia volta e voltar ao meu caminho… só penso em chegar ao momento de voltar a sentir junto dos lábios o fresco daquela imagem. E no quente da minha cama, sussurrar algo que na altura me faça o melhor e maior sentido possível!
Se é que existe sentido(s)…?!

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